JORGE BENCI E A JUSTIFICAÇÃO DA MORTE SOCIAL DO INDIVÍDUO ESCRAVIZADO NO BRASIL COLONIAL
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https://doi.org/10.62236/missoes.v9i3.182Palavras-chave:
Escravidão, Companhia de Jesus, Cristandade colonialResumo
Publicada originalmente em 1700, a obra de Jorge Benci Economia cristã dos senhores no governo dos escravos expressa o discurso religioso direcionado às relações entre senhores escravocratas e escravizados que predominou no período colonial brasileiro. Tendo como base teórico-conceitual a contribuição de Orlando Patterson para a compreensão da escravidão, o discurso de Benci é concebido neste artigo como uma das produções que justificaram, pelas vias do sagrado, não somente a escravidão como também a morte social do escravizado nas configurações sociais que se delinearam no período. Tendo contribuído para sustentar a posição do indivíduo escravizado num dos extremos da escala de distribuição de poder, Benci foi uma das vozes da autoridade eclesiástica que produziu a aura sacralizada das relações sociais cuja matriz foi forjada na escravidão. O olhar para as relações sociais pelas vias interpretativas sugeridas neste artigo contribuem para a compreensão das relações íntimas que se estabeleceram entre escravidão, discurso religioso oficial e morte social do escravizado no Brasil colonial.
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